segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O fim e os Meios, de Murilo Salles, gera dúvidas aos admiradores de um bom filme

O Fim e os Meios Foto: Divulgação

Durante a manhã dessa segunda-feira, 10, aconteceu a reprise do longa-metragem brasileiro “O Fim e os meios”, no palácio dos festivais. O filme, com direção de Murilo Salles, conta a história de um casal que se muda do Rio de Janeiro para Brasília, após os dois, encontrarem na capital nacional, melhores oportunidades de trabalho. Ela, Cris, é uma jornalista. Já ele, Paulo, é um publicitário.
O Fim e os Meios começa abordando a rotina de um homem que dorme numa barraca, em meio a uma mata fechada. Durante a tarde, ele permanece num terraço de um prédio, onde esconde uma quantia em dinheiro e faz questão de não ser percebido pelas demais pessoas. Ali, já se criava um mistério. E as cenas a seguir teriam a missão de explicar o motivo pelo qual o homem preferia a solidão. Logo no início da trama, Cris (Cintia Rosa) e Paulo (Pedro Bricio) discutem sobre o fato da jornalista estar grávida e no passado, o publicitário ter oferecido dinheiro para que a mesma, abortasse a criança. Ainda nessa cena de discussão, a bolsa dela estoura e logo a seguir, nasce Ana, filha do casal.
Surge uma proposta para que Paulo trabalhe como assessor de marketing, em Brasília, do então senador da república Reginaldo Motta. O publicitário receberia o incrível valor de 1,5 milhão de reais em dois anos, para melhorar a imagem do político e fazer com que ele se reelegesse. Sabendo disso e com proposta de trabalho em mãos, Cris propõe que ela se transfira junto com ele, para Brasília. Na capital do Brasil, eles começam a conviver diariamente com Hugo (Marco Ricca), então genro do senador Motta e viúvo de Laura (Hermila Guedes), que sofrera de câncer e veio a falecer.
Pelo fato de Hugo ser viúvo e Cris sofrer uma certa solidão por Paulo estar diretamente envolvido com trabalho, se cria nesse momento um triangulo amoroso na trama. Existe certo incômodo nesse relacionamento, afinal, a jornalista escreve sobre os problemas em Brasília e o publicitário tenta, de toda maneira, melhorar a imagem do político.
No final de O Fim e os Meios se descobre que a campanha de Reginaldo Motta estaria usando de um suposto dossiê da candidata adversária que envolveria milhões de reais, sem procedência. A polícia federal investiga o caso e Paulo, então responsável pela campanha, tem que fugir. Cris, sem poder dar maiores detalhes para a imprensa, acaba sendo afastada do trabalho. O filme se encerra com o publicitário retornando para a sua casa e Cris deixando sua residência junto de sua filha. Antes disso, Paulo ainda agride Hugo e fica o mistério se aquilo foi apenas uma agressão ou o amante de Cris teria falecido.
O filme de Murilo Salles é um forte candidato para receber o prêmio de melhor longa e pode contar com seu elenco entre o melhor ator e atriz do 43º festival de cinema de Gramado, pelas grandes atuações de Pedro Bricio e Cintia Rosa, nos papéis principais. O Fim e os Meios abordou sexualidade, política, ganância, traição e um grande jogo de interesses. Não existe um mocinho nem um vilão. São pessoas normais que buscam – de toda maneira –, o melhor para si e passam por cima dos valores éticos e morais. O filme é um retrato da atual sociedade. E isso faz com que o público pense e muito.
Durante a coletiva, Pedro Bricio brincou ao dizer que o diretor Salles gosta de dar vida a personagens homens que não se dão muito bem durante a trama. Já, Cintia Rosa, enfatizou a importância da presença de uma mulher negra que foge dos padrões, ao não ser uma mulher de alto poder aquisitivo ou uma doméstica no enredo. Segundo ela, foi importante que Cris seja uma jornalista que tem personalidade para definir o próprio caminho a ser traçado, sem influência de outras pessoas ou problemas. Ao finalizar, ela mencionou o racismo sofrido por Maria Julia Coutinho, da Globo, e disse que tal atitude dos telespectadores foi lamentável.
Com certeza, quem assistir a obra, irá prestar atenção nos mínimos detalhes do primeiro ao último segundo de cena. Salles, não busca responder as perguntas do seu público e sim gerar problemas, dúvidas, questionamentos. Não se sabe como foi a primeira relação sexual entre Hugo e Cris, por exemplo, que começou com abuso e violência, mas terminou com ela cedendo. Como que aconteceu? Aliás, Hugo morreu? Seria Paulo um assassino? Como seguiria a vida dos personagens após a subida dos créditos? Dúvidas que permanecem na cabeça dos admiradores de uma boa trama.


Vinícius Carvalho, acadêmico do 3º semestre de Jornalismo da Universidade Feevale

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