quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Crítica - Venecia, de Kiki Alvarez


Venecia, produção cubana dirigida por Kiki Alvarez, conta a história de três amigas, Violeta (Claudia Muñiz), Monica (Maribel Garcia Garzón) e Mayelin (Marianela Pupo), que trabalham num salão de beleza e sonham em abrir o seu próprio centro de estética. Se passando por um dia na vida dessas amigas – o filme começa pela manhã e termina ao amanhecer do dia seguinte –, é possível acompanhar a rotina delas através de suas perspectivas e laços amorosos com terceiros, que praticamente não dão as caras no filme.
Apesar de ser dirigido por um homem, Venecia é um filme sobre mulheres abordando aspectos femininos sobre o mundo.  Homens tampouco aparecem, sendo que os que aparecem são homossexuais com traços femininos. Temas recorrentes a esse universo, como satisfação com o corpo, abandono e gravidez são os principais da obra, delimitados com delicadeza por seu roteiro e impactantes através das grandes atuações do trio principal.
Cada uma das amigas corresponde a um tipo diferente de pessoa, sendo únicas e ao mesmo tempo ligadas por temas inexoráveis a elas. Violeta é uma jovem que passa por problemas com um homem – que por grande parte da trama não se sabe ao certo se é seu namorado ou amante –, e por isso se mostra sensível e tristonha.  Mayelin aparenta justamente o oposto, dona de si, se gaba a todo o momento de suas capacidades. Ela, porém, esconde um problema com o peso, exagerando nas refeições, acaba sempre tomando remédios para vomitar e perder peso. Monica se mostra a mais experiente das três, decidida em relação a sua visão de vida, sempre aconselha e tem o papel de intermediar a gangorra que é o relacionamento das outras duas. Sendo assim, seria difícil apontar uma protagonista na obra, sendo as três com papéis igualmente importantes para o núcleo que formam.
A divisão entre o dia, monótono e a noite agitada é facilmente percebida através dos sons e movimentos de câmera do filme. Enquanto no cotidiano do salão não há nenhuma trilha-sonora além das conversas e fofocas habituais, na noite, as coisas se agitam em cabarés, bares, restaurantes e até nas ruas. O filme, antes silencioso, em seguida se torna barulhento. O mesmo processo acontece com a câmera. No começo, apenas a câmera parada e sufocante, com closes e planos aproximados. Em seguida, a steadycam acompanha as andanças das protagonistas pelas ruas e os movimentos se tornam bruscos, acompanhando a gritaria das ruas.
Outro aspecto que chama atenção em relação aos enquadramentos é o das cenas em banheiros. Esse, que é um universo onde as mulheres passam tempo juntas, se arrumando e conversando, tem um tratamento especial na obra. Com diversas cenas acontecendo em diversos banheiros diferentes, em nenhum momento as personagens são filmadas diretamente. O subterfúgio está sempre em contra planos através dos espelhos, que acabam por se tornarem portais para as expressões das atrizes.

Definido por alguns como um road movie urbano, Venecia mostra como um mundo pessoal pode ser abalado em apenas algumas horas. As três protagonistas revelam aspectos anteriores à história que vemos, influenciando como agem no presente e trazendo incertezas a si mesmas diante de seus futuros. O filme, que passou pela seleção oficial do Festival de Toronto e foi premiado em Havana, brilha também em Gramado, dividindo suas forças entre narrativa, atuação e fotografia.

Giancarlo Couto, acadêmico do 7º semestre de Jornalismo

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