sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Crítica: Sinfonia da Necrópole, de Juliana Rojas

"Sinfonia da Necrópole", de Juliana Rojas
(Foto: Divulgação)
Com pesar de morte que adentramos no mundo do cemitério. À parte de uma São Paulo que cresce para todos os lados, principalmente para cima, a necrópole sofre do mesmo mal, a falta espaço. E para crescer e avançar, reocupando e otimizando os espaços, é necessário fazer realocações. Sobra para os mais fracos, para os mudos, para os mortos. É com esse tom de pesar que Sinfonia da Necrópole começa. Temos imagens paradas de estátuas silenciosas no cemitério e ao fundo apenas o som da cidade que se movimenta perto dali. Desavisados poderiam pensar que tudo se trata de um drama, mas logo o filme de Juliana Rojas mostra o seu tom extremamente satírico. Um aprendiz de coveiro que desmaiou em pleno enterro, pois não aguenta lidar com os mortos.

Deodato (Eduardo Gomes) é o aprendiz de coveiro. Rapaz desajeitado, tem dificuldades com o trabalho pesado, mas facilidade com a poesia e com a música. Deodato sabe que seu lugar não é ali, porém permanece por falta de algo melhor. Ganha um motivo maior ainda quando chega ao cemitério a agente funerária Jaqueline (Luciana Paes). Ela está ali para fazer um mapeamento do cemitério, a fim de realocar túmulos abandonados e esquecidos, para que no lugar destes possa ser construído um grande prédio que abrigue novas jazidas.

Sendo uma mistura de musical com comédia non sense, Sinfonia da Necrópole surpreende por conseguir trazer à tona momentos pesados com leveza. As músicas são divertidas e ao mesmo tempo melancólicas, repletas de poesia em suas letras. Deodato é um protagonista incrível, acompanhado por coadjuvantes igualmente competentes e com peculiaridades cativantes. A câmera ousada de Juliana Rojas não tem medo de usar zooms – coisa brega, segundo alguns – e acompanhar os personagens durante as músicas, tudo ao contrário do clima pesado do início.


Sinfonia da Necrópole surge no momento certo, mostrando que o cinema brasileiro se encaminha de vez para sua grande retomada. O cinema de gênero, algo que se perdeu no tempo, parece se tornar cada vez mais usual nas produções nacionais. Tempos atrás seria difícil ver um musical brasileiro sendo lançado, hoje podemos nos surpreender com a versatilidade de diretores da nova geração, que buscam inovar. E que sigam assim, temos muitas mais sinfonias para ouvir antes de passar dessa para a melhor.

Giancarlo Couto, Acadêmico do 5º Semestre Universidade Feevale

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