quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Crítica: Las Analfabetas, de Moisés Sepúlveda

Pôster: Las Analfabetas
(Foto: Divulgação)
Segundo pesquisas da Unesco, 36 milhões de latino-americanos adultos são analfabetos. Transformar essas pessoas em números e distanciá-las é algo corriqueiro, mas se aproximar e mostrar seu cotidiano transforma a percepção do espectador diante desses casos. Las Analfabetas, de Moisés Sepúlveda, faz justamente esse trabalho, mostrar o cotidiano de um analfabeto. Através dessa visão, percebemos que o analfabetismo muda o modo de viver das pessoas e, além disso, as afasta do mundo lá fora, enclausurando-as em suas casas.

Apesar de ser chileno, Las Analfabetas poderia bem ser um filme brasileiro. Sua história corresponde ao que muito se vê por aqui. Ximena (Paulina Garcia) tem 50 anos e vive sozinha em sua casa. Sem saber ler, a mulher finge pelas ruas que esqueceu seus óculos em casa e pede para que outros leiam para ela. A vergonha é mais forte do que a vontade de aprender algo que parece ser exclusivo apenas para os outros. Eis que bate à sua porta a jovem professora Jackeline (Valentina Muhr), filha de uma antiga amiga que Ximena não vê há tempos. Jackeline se oferece para fazer o que sua mãe fazia, ler o jornal para a amargurada Ximena.

Com personalidades conflituosas, as mulheres se cutucam a todo instante, revelando o analfabetismo de ambas. Nesse instante percebemos que o analfabetismo não toca apenas em relação às letras. É possível não saber ler os momentos, sentimentos e vontades. E é isso que mais afeta Jackeline.

O principal problema de Las Analfabetas porém é sofrer do didatismo que a situação provoca. O filme é curto e parece mal aproveitado, deixando pontas sem nó e questões, outrora levantadas, em aberto para interpretações no final. Sepúlveda já disse que gosta de trabalhar com perguntas e não com respostas, mas é difícil não se prender a certas gratuidades da obra.


Mal aproveitado ou não, o certo é que o tema abordado por Sepúlveda é atual e, provavelmente e infelizmente, atemporal. Suas consequências também mostram que a questão sucinta debates muito mais profundos do que meras análises através de números. É necessário tirar essas pessoas de sua prisão e coloca-las para ler o mundo.


Gian Couto, acadêmico do 5º semestre da Universidadade Feevale

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