Venecia, produção cubana dirigida por Kiki Alvarez, conta a história de três amigas, Violeta (Claudia
Muñiz), Monica (Maribel Garcia Garzón) e Mayelin (Marianela Pupo), que
trabalham num salão de beleza e sonham em abrir o seu próprio centro de
estética. Se passando por um dia na vida dessas amigas – o filme começa pela
manhã e termina ao amanhecer do dia seguinte –, é possível acompanhar a rotina
delas através de suas perspectivas e laços amorosos com terceiros, que
praticamente não dão as caras no filme.
Apesar de ser dirigido por um homem, Venecia é um filme sobre
mulheres abordando aspectos femininos sobre o mundo. Homens tampouco aparecem, sendo que os que
aparecem são homossexuais com traços femininos. Temas recorrentes a esse
universo, como satisfação com o corpo, abandono e gravidez são os principais da
obra, delimitados com delicadeza por seu roteiro e impactantes através das
grandes atuações do trio principal.
Cada uma das amigas corresponde a um tipo diferente de
pessoa, sendo únicas e ao mesmo tempo ligadas por temas inexoráveis a elas.
Violeta é uma jovem que passa por problemas com um homem – que por grande parte
da trama não se sabe ao certo se é seu namorado ou amante –, e por isso se
mostra sensível e tristonha. Mayelin
aparenta justamente o oposto, dona de si, se gaba a todo o momento de suas
capacidades. Ela, porém, esconde um problema com o peso, exagerando nas
refeições, acaba sempre tomando remédios para vomitar e perder peso. Monica se
mostra a mais experiente das três, decidida em relação a sua visão de vida,
sempre aconselha e tem o papel de intermediar a gangorra que é o relacionamento
das outras duas. Sendo assim, seria difícil apontar uma protagonista na obra,
sendo as três com papéis igualmente importantes para o núcleo que formam.
A divisão entre o dia, monótono e a noite agitada é
facilmente percebida através dos sons e movimentos de câmera do filme. Enquanto
no cotidiano do salão não há nenhuma trilha-sonora além das conversas e fofocas
habituais, na noite, as coisas se agitam em cabarés, bares, restaurantes e até
nas ruas. O filme, antes silencioso, em seguida se torna barulhento. O mesmo
processo acontece com a câmera. No começo, apenas a câmera parada e sufocante,
com closes e planos aproximados. Em seguida, a steadycam acompanha as andanças das protagonistas pelas ruas e os movimentos
se tornam bruscos, acompanhando a gritaria das ruas.
Outro aspecto que chama atenção em relação aos
enquadramentos é o das cenas em banheiros. Esse, que é um universo onde as
mulheres passam tempo juntas, se arrumando e conversando, tem um tratamento
especial na obra. Com diversas cenas acontecendo em diversos banheiros
diferentes, em nenhum momento as personagens são filmadas diretamente. O
subterfúgio está sempre em contra planos através dos espelhos, que acabam por
se tornarem portais para as expressões das atrizes.
Definido por alguns como um road movie urbano, Venecia mostra como um mundo pessoal pode ser
abalado em apenas algumas horas. As três protagonistas revelam aspectos
anteriores à história que vemos, influenciando como agem no presente e trazendo
incertezas a si mesmas diante de seus futuros. O filme, que passou pela seleção
oficial do Festival de Toronto e foi premiado em Havana, brilha também em
Gramado, dividindo suas forças entre narrativa, atuação e fotografia.
Giancarlo Couto, acadêmico do 7º semestre de Jornalismo
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