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Pôster: Las Analfabetas (Foto: Divulgação) |
Segundo
pesquisas da Unesco, 36 milhões de latino-americanos adultos são analfabetos.
Transformar essas pessoas em números e distanciá-las é algo corriqueiro, mas se
aproximar e mostrar seu cotidiano transforma a percepção do espectador diante
desses casos. Las Analfabetas, de Moisés Sepúlveda, faz justamente esse
trabalho, mostrar o cotidiano de um analfabeto. Através dessa visão, percebemos
que o analfabetismo muda o modo de viver das pessoas e, além disso, as afasta
do mundo lá fora, enclausurando-as em suas casas.
Apesar
de ser chileno, Las Analfabetas poderia bem ser um filme brasileiro. Sua
história corresponde ao que muito se vê por aqui. Ximena (Paulina Garcia) tem
50 anos e vive sozinha em sua casa. Sem saber ler, a mulher finge pelas ruas
que esqueceu seus óculos em casa e pede para que outros leiam para ela. A
vergonha é mais forte do que a vontade de aprender algo que parece ser
exclusivo apenas para os outros. Eis que bate à sua porta a jovem professora
Jackeline (Valentina Muhr), filha de uma antiga amiga que Ximena não vê há
tempos. Jackeline se oferece para fazer o que sua mãe fazia, ler o jornal para
a amargurada Ximena.
Com
personalidades conflituosas, as mulheres se cutucam a todo instante, revelando
o analfabetismo de ambas. Nesse instante percebemos que o analfabetismo não
toca apenas em relação às letras. É possível não saber ler os momentos,
sentimentos e vontades. E é isso que mais afeta Jackeline.
O
principal problema de Las Analfabetas porém é sofrer do didatismo que a
situação provoca. O filme é curto e parece mal aproveitado, deixando pontas sem
nó e questões, outrora levantadas, em aberto para interpretações no final.
Sepúlveda já disse que gosta de trabalhar com perguntas e não com respostas,
mas é difícil não se prender a certas gratuidades da obra.
Mal
aproveitado ou não, o certo é que o tema abordado por Sepúlveda é atual e,
provavelmente e infelizmente, atemporal. Suas consequências também mostram que
a questão sucinta debates muito mais profundos do que meras análises através de
números. É necessário tirar essas pessoas de sua prisão e coloca-las para ler o
mundo.
Gian Couto, acadêmico do 5º semestre da Universidadade Feevale
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